domingo, 19 de dezembro de 2010

A música do silêncio

As pessoas mentem, ludibriam, mas a música é incapaz de nos enganar.

As palavras cortam, as intenções assolam, as atitudes humilham e depreciam, mas a música nunca virá nos ferir.

A realidade dura e tensa , momentos de dor e acidez, dos requintes da crueldade da estirpe aos seus desejos megalomaníacos, atropelando tudo à sua frente, há apenas um bom analgésico:

Sentar-se, respirar fundo, e deixar o som da alma ecoar em bálsamo junto às dores, pelas mãos do artista, pelos ouvidos dos necessitados de conforto e alegria, a música nos constrói, e me reconstrói todos os dias.

O tempo, ah.. esse sim é capaz de nos mostrar o que os olhos não são capazes de ver, o que os pensamentos insistem em embaralhar...A todos aqueles que dão as costas, aos que se negam a respirar fundo e mergulhar no poço da realidade crua.

Ode aos cientes, pois aos inconscientes resta todo o tempo para descobrir que precisam muito mais de nós do que nós deles.

Inflem seus egos, gritem estupidez e ignorância aos quatro ventos. Sejam arrogantes e prepotentes. Assim como na tocata, cada um tem seu lugar, uns acima, uns ao centro, uns abaixo , e uns tantos servindo de piso.

Ah, ainda há lugar para àqueles que não afinaram seus instrumentos, que não ensaiaram a peça da vida: fora do palco, assistindo ela acontecer.

Maré

Mais uma vez cruzam-se os destinos
E queimam-se as estradas de todos os dias
Passando por tantas outras e outros
Quando há apenas um capaz de lhe ver

Solitário a buscar nas entrelinhas da vida
A marcha da coragem seguindo em frente
Em meio a tantos ventos impiedosos
Trazidos pela implacável sorte

E por entre estes caminhará sempre

Aproxima-se o calar da escuridão
Enruga cada anoitecer
Transmutando cada insignificância
Numa nuvem de agonia e acidez

Disforme fazem-se os caminhos perante ti
Por onde cruzará com correntes de dor

Saber da incerteza de apalpar
Um empecilho à tua força de vontade
Afunda-te no pântano do desconhecido
Desce ao rio de águas amargas
Movimentando dentro de ti

Assim te guiará pela vida o teu coração
Que guiou sua intuição a cada segundo
Uma maré que a todas as alturas te eleva
A um porto seguro te desemborcará.

É

É simplesmente o retrato da dor
Toda cor que escondemos em tudo
Por tentarmos sermos mais nós
Mascarando a sombra na sala
Tão triste sem canto nem foto
Distantes desejos assombram
O calor da rotina de hoje
Tão hipócritas são os homens
Me diz pra que mentir tanto
Se enganar, sem ganhar um ser mais
Se vender sem valer um centavo
Em quantos trocados
Nós somos o novo destino do mundo...

O Outro Lado

Tantas noites mal passadas
Lugares que desconheço
Seriam reais essas jornadas
Há tempos chamando por mim

Asas da abstração alto nos céus
Provas de um mundo traidor de mentes
De formas conecto diretamente
Convida, entorpecendo ao profundo

Refletido o paraíso na alma aprisionada
Incontáveis pradarias, noites encantadas
Chegando em seus portões, rebenta grilhões
Até que possa aprender a voar

Sopra suavemente, vento e brisa
As areias revelam a forma de ser
Alcanço o reino onde finalmente
Sem mais temer, sou.